sábado, janeiro 28

Medo | DIÁRIO



Deixei de escrever por medo.
Podia mentir e dizer que perdi o gosto pela escrita, fingir que estou com um bloqueio de criatividade, mas tenho de enfrentar a realidade e assumir finalmente que deixei de escrever por medo.
Por muitas vezes que abra uma pagina de word, por muitos cadernos que tenha comigo, por muita vontade que tenha de voltar a escrever - e tenho, se tenho! - acabo sempre por me esconder em trivialidades. Até deixei de ver filmes que e ler livros que sei me poderiam trazer inspiração, porque sei que depois não sei o que fazer com ela. E sinto falta dos filmes que me enchem de vontade de escrever sobre eles, que me trazem alento e me deixam de tal forma inquieta que tenho de partilhar o que senti com quem quer que seja; sinto falta dos livros, dos romances e clássicos que sempre gostei tanto, das citações que me fazem pensar e repensar naquilo em que acredito; mas deixo tudo isso de lado, porque não me sinto pronta para qualquer tipo de introspetiva que isso possa desencadear.
Nunca sinto.
- Deixei de sentir? -
E os filmes e os livros, que outrora foram combustível para a única coisa que nunca falhava em deixar-me plena, hoje tornaram-se a arma da ansiedade, que traz um fardo pesado e um peso no peito.
Quando foi que isto aconteceu não sei ao certo, não consigo apontar sequer uma razão, mas tornei-me emocionalmente preguiçosa e só depois de um empurrão bem dado, o consegui admitir.
Ainda doí admiti-lo. Custa-me saber que a miúda que tinha o coração na ponta dos dedos não sabe sequer o que fazer às mãos. Ainda que nunca tenha sido alguém que pregava amor aos sete ventos, sempre senti muito, apegava-me às pessoas e permitia que me conhecessem. Gostava de sentir. Gostava do que escrevia por sentir tanto, gostava da plenitude que isso me trazia e da franqueza que existia entre mim e os meus sentimentos.
Mas, deixei de fazê-lo. E sem saber o que o desencadeou sei que o faço por medo.
Deixei de escrever por ter medo. Medo de sentir.
E não há vontade mais sôfrega que eu tenha do que a vontade de escrever.
E não há medo maior que eu hoje tenha, do que o medo de sentir.
De todas as coisas que eu poderia ter deixado de fazer, deixei de parte a que me personificava.
E foi o medo quem me roubou.

Deixei de escrever por medo,
Mas de hoje em diante não escrevo mais a medo.
Prometo.

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